Deixe sua opinião nos comentários. Ela é muito importante para mim. 🙏❤🌹

domingo, 4 de julho de 2021

Genevieve 72

Homem de palavra, de atitude, disposto, fez exatamente o que disse, pediu que Genevieve lhe acompanhasse e mostrasse o caminho porque iriam buscar suas coisas na casa de sua mãe. Ele percebeu de imediato a expressão de medo nos olhos da criança e a acalmou, disse que nunca mais aquela mulher que nunca deveria ter sido mãe, tocaria nela. Quando pararam na frente da casa, a mulher surgiu alterada, dizendo que ia matar aquela peste e o homem desceu do carro calmamente, se apresentou e comunicou que veio apenas buscar os pertences da menina, que ela nunca mais tocaria num fio de cabelo dela e que não existia motivo no mundo que justificasse toda aquela agressividade e nesse caso, não tinha como inventar estórias, pois a menina estava com as marcas da surra que levou. 

Para ver onde chegava a hipocrisia dessa mãe desnaturada, o jovem a questionou sobre o motivo daquela surra em particular, como não tinha nenhum, ela se alterava e gaguejava, alegando que a menina causava conflitos, intrigas e que a fez brigar com o marido, a filha mais velha e o irmão que era o único que a apoiava. Sendo ele uma pessoa ponderada, respondeu apenas que tinha conversado pessoalmente com o padrinho da pequena que o procurou e pediu encarecidamente que eles como família também daquela pobre criança que a tirassem da mãe que era sua irmã, pois além de ser explorada, maltratada, agredida, ainda estava sem aulas, o que no entendimento dele era gravíssimo. 


Genevieve 71

Convidando Genevieve a entrar em sua mansão, a suposta irmã ficou assustada com o estado da menina que estava muito machucada, perguntou o que havia acontecido e ela disse que havia apanhado da mãe com algo que lhe cortou a pele, por isso sangrava. A mulher sentiu uma revolta a invadir, levou a menina ate a cozinha, pediu que sentasse, pegou alguns medicamentos e enquanto tratava dos ferimentos, fez vários questionamentos, como qual o nome da mãe, respondida a pergunta, a mulher não teve dúvidas, ofereceu algo para que ela comesse, pois estava mesmo faminta, enquanto fez uma ligação telefônica. Dentro de pouco tempo, surgiu um belo homem, cabelos negros e estatura mediana.

Quando Genevieve olhou em seus olhos esverdeados, teve a mesma sensação de quando via os anjos de sua vida e teve certeza, encontrava mais um anjo, teria a proteção daquele homem que era seu meio irmão, se toda aquela estória fosse verdadeira, pois era possível que nem sua mãe soubesse ao certo quem era o pai da menina, considerando a vida leviana que levava e os tantos relacionamentos inconsequentes que se envolveu. A irmã mais velha contou como a menina chegou, mostrou os machucados que ela carinhosamente tratou e esse por sua vez, indignou-se e disse que iria imediatamente até a casa dessa mulher e ia tirar a pequena de lá de qualquer jeito, nenhum ser merecia aquele tipo de tratamento pensou ele. 


Genevieve 70

Tudo piorou muito quando a mãe soube que o irmão, tio João, padrinho de Genevieve, havia recorrido na justiça para obter a guarda da menina, bem como, tinha entrado em contato com a família do pai dela que não morava na cidade. Naquele dia a mulher que já se sentia mais disposta depois de ser devidamente medicada, surrou a menina com muita raiva e com uma correia de carro, machucando muito a ponto de sangrar onde recebeu as batidas com a borracha da correia. Revoltada Genevieve dessa vez reagiu, aproveitou que a insana entrou em casa para fazer sabe Deus o quê e fugiu correndo portão afora. Só ouviu os gritos estridentes da mãe enlouquecida no portão, mas já havia virado a esquina e não era possível saber para que lado a menina corria.

Correu, correu e correu. Quando se deu conta, estava na frente da casa da irmã que sua mãe mostrava, ela não sabe como chegou ali, mas chegou e subiu a grande escadaria. Na frente da porta com o coraçãozinho acelerado, tocou a companhia da belíssima residência com enormes escadarias de mármores brancos. Logo em seguida, a porta se abriu e uma mulher morena, de estatura baixa, com traços bonitos e cabelos negros surgiu. Foi gentil e perguntou o que a menina queria, achando certamente que era uma pedinte, mas deu um salto quando a pequena disse que achava que era sua meia irmã, pois não sabia se era verdade o que sua mãe havia lhe falado como nem sempre era verdadeira, ficou na dúvida. 


sexta-feira, 2 de julho de 2021

Genevieve 69

Um homem percebendo que elas estavam em duas, pediu se a menina poderia ficar na fila prá ele, enquanto buscava sua esposa que estava mal. A mãe concordou, a fila andava devagar, mas finalmente conseguiram seu objetivo, marcaram uma consulta ainda naquele dia. O senhor que pediu que Genevieve ficasse na fila em seu lugar, agradecido pela ajuda da criança, deu uns trocados, os quais foram usados para comprar pães e mais algumas guloseimas para tomar um bom café da manhã. No caminho de volta, passaram na frente de uma linda casa verde com branca, com enorme escadaria branca de mármore que a fez lembrar da casa onde foi levada para ser empregada, a mãe disse que ali morava sua irmã por parte de pai. A pequena notável gravou a imagem da bela casa em sua memória que era fotográfica. 

Ao chegaram em casa, a mãe preparou um café bem gostoso que até lembrava o de vó Ana, todos sentaram à mesa juntos e saborearam as delícias que a pequena comprou com o dinheiro que ganhou por ficar na fila do Sus. Como tudo na vida passa aquele período de calmaria, também passou. Depois de ir ao médico e constatar que estava doente, culpou a menina, alegando que só a incomodava e que lamentava o dia em que ela nasceu. Essas palavras dilaceravam o coração da menina que não conseguia compreender o que ela fazia para incomodar tanto a mãe, só trabalhava, falava muito pouco, comia quase nada, dormia no chão, num canto, bem quietinha, nada lhe era comprado, era difícil digerir essas acusações.


quinta-feira, 1 de julho de 2021

Genevieve 68

Lamentava intimamente por sentimentos tão ruins estarem em seu coração, desejava nutrir sentimentos amorosos, pacíficos, tranquilos, de gratidão, de fé, de alegria, porque eram esses sentimentos que a permitiam sentir felicidade, se era esse o nome da sensação que invadia e aquecia seu coração quando os sentia. Era bom, era reconfortante, era acolhedor. Parecia estar num abraço carinhoso e aconchegante, buscava em sua memória, recordações dos abraços de pessoas carinhosas que cruzaram seu caminho e isso a fortalecia, sentia que em alguns momentos por mais breves que tenham sidos, havia sido amada e querida. 

A mãe de Genevieve certo dia no final da tarde sentiu uma terrível dor abdominal e compreendeu que precisava ir ao médico, como dependia do sistema público, seria necessário ir de madrugada para conseguir uma consulta. Avisou a filha antes de ir dormir que precisariam acordar mais cedo na manhã seguinte para ir até o posto, o qual era bem longe de onde moravam. Genevieve assentiu com a cabeça, temia falar qualquer coisa e ser mal interpretada pela mãe, que demonstrava mesmo estar doente. Acordaram e saíram, deixando os meninos dormindo, estava muito frio e a menina tinha poucas roupas de frio, quando a mãe lhe colocou um casaco dela nas costas da filha, que surpresa, agradeceu a gentileza. Seguiram em silêncio até chegar no local onde já havia uma fila imensa, muitas pessoas esperando por agendar uma consulta médica. 


Genevieve 67

Pensou muito em vó Ana naquela noite, pediu ao Universo que a protegesse e a fortalecesse para o que a esperava. Adormeceu e teve sonhos com os momentos bons que viveu com aquela senhora tão especial, que saudades sentia dela, mas no sonho pode abraçá-la e reafirmar o quanto a amava. Na manhã seguinte, acordou um pouco mais cedo e foi cuidar das tarefas que fazia antes, não queria despertar a ira naquela mulher que já acordava azeda, parecia que dormia num vidro de vinagre, mas compreendia um pouquinho das atitudes grosseiras da mãe, pois devia ser muito difícil dormir e acordar com um bêbado, fedido, grosseiro e estúpido. O que ela se perguntava mesmo sem saber das coisas de adultos era o porquê certas mulheres se permitiam tamanha submissão? Essa pergunta deve ter permanecida sem resposta até hoje. 

Os dias se passavam e a mãe da pequena estava mais calma, quase não falava, não reclamava, não vomitava seus habituais palavrões, cuidava dos meninos, parecia anestesiada, no modo automático como diríamos atualmente. Implicava muito pouco com a menina que até sentiu um lampejo de afeição por aquela mulher que um dia amara tanto, sem mesmo conhece-la. Bastava o fato de ser sua mãe, lhe ter dado a vida para nutrir esse amor, mas depois que a conheceu e viu seu lado perverso e mau tão evidentes, Genevieve não sentia mais amor em seu coração por aquela pobre mulher, no íntimo sentia um misto de raiva, ódio, pena, vergonha, sentimentos negativos. 


Genevieve 66

O trajeto que a assistente social estava fazendo, era muito diferente e com muito pesar, reconheceu um caminho que não queria percorrer nunca mais, a casa de sua mãe. Seu coração bateu descompassadamente quando estacionou o carro na frente da casa da mulher que veio com aquele ar prepotente e olhar ameaçador, a menina sabia que a perversa mãe se vingaria dela por ter brigado com o irmão, o único de quem recebia apoio. Na mente distorcida, brigou com o irmão por causa de Genevieve, o que logicamente não era verdade.  Desceu do carro e a assistente social gritou que nunca mais a procurassem e que nunca mais ajudaria esse tipinho de gente que não reconhece a ajuda que recebem. A mãe respondeu que ela daria um jeito na menina. Sabia bem que jeito era esse. Sentiu seu coração doer, tinha dificuldades para respirar, sua cabeça girava, sentia náuseas e nesse momento entendeu o significado de intuição, que sempre avisava quando ela ia passar por dificuldades. 

Estava anoitecendo quando a mãe de Genevieve a mandou ir dormir porque não queria ver a cara dela, no dia seguinte acertariam as contas. Talvez aquela tenha sido uma das noites mais longas da vida daquela menina de onze anos que já tinha enfrentado tantos obstáculos. Muitas vezes ela se perguntava o que teria feito de tão errado para merecer o desprezo da mulher que lhe permitiu nascer. Na sua maturidade, compreendia que o que ela tinha que viver, o que reservava o destino, pertencia somente a ela vivenciar, então, que isso fosse da melhor maneira possível. Aceitava com resignação seus desafios. Enquanto rezava e refletia sobre sua breve vida, mas já repleta de emoções e altos e baixos, pensou que se deveria sofrer que fosse ao lado de sua mãe então! 


Genevieve 65

Antes de ir dormir, deixava a cozinha brilhando, quando acordava de manhã muito cedo, estava um lixo, parecia um chiqueiro, porque os netos da senhora voltavam da faculdade tarde da noite e faziam aquela bagunça, não eram eles que limpavam, então, que a pequena esfomeada como chamavam ela, se danasse. Um dia após o almoço quando nada sobrou limpo que ela pudesse se alimentar, saciar sua fome, pediu à senhora que chamasse a assistente social porque precisava conversar com a mulher, representante do estado, dos direitos humanos. Surpresa a senhora perguntou o que ela queria conversar e cheia de coragem, respondeu que era particular. Por pouco não levou uma bofetada, a mão até espalmou, mas a mulher se conteve. Apenas a fulminou com olhar e imediatamente pegou o telefone, atendendo ao pedido da menina franzina que nada mais era que sua empregadinha doméstica a custo zero. 

Alguns dias depois a assistente social apareceu brava e xingando Genevieve, nem perguntou o que ela queria, já foi ofendendo, dizendo que gente como ela merecia sofrer mesmo, que estava numa casa daquelas e não era agradecida, que comia do bom e do melhor, que dormia confortável, que tinha roupas e calçados e nada disso sabia reconhecer. Mal sabia ela que durante o tempo que a menina ficou ali, ganhou um chinelo maior que os pés dela e uma pasta de dentes, escovava os dentes com os dedos, porque a escova era caríssima e não puderam dar uma pra empregada custo zero. Sem querer saber das razões que a menina pediu para chama-la a fez entrar no carro e a levou embora, no caminho achando que estava sendo levada à casa de seus primos, ainda escutou muitos absurdos que os ouvidos de uma criança deveriam ser poupados.


domingo, 27 de junho de 2021

Genevieve 64

O horário para uma menina de 11 anos, levantar e limpar aquela casa enorme sozinha, quatro da manhã, sim quatro horas da manhã. Mas como acordaria nesse horário? Sempre pudera dormir até às 7h00 mesmo na casa da mãe que era ruim. Ficou preocupada em como acordaria e nem conseguiu dormir, ficou lendo um livro que achou no quartinho bonitinho. Na madrugada, ainda escuro a pequena estava pronta para realizar a sua lista enorme de serviços, o primeiro da lista era lavar a escadaria de mármore branca com palha de aço e sapólio, combinação que corria a ponta dos dedos, já que não podia e tinha luvas para usar. Ariou toda aquela escadaria que estava bem suja e foi dando sequencia à lista interminável, a hora do café da manhã não chegava nunca. Estava faminta! Quando finalmente pode sentar no cantinho da cozinha, de novo eram os restos que estavam reservados a ela. Nesse momento ela entendeu o significado de revolta, se revoltou com aquela senhora sovina e mesquinha, tinha tanto e oferecia tão pouco. 

Passaram alguns dias e nada de escola, então, educadamente perguntou à senhora sobre quando poderia ir à escola e recebeu uma resposta grosseira e estúpida, iria quando conseguisse concluir todo o serviço até o horário da escola. Como faria isso? Tinha que limpar a cozinha, lavar aquela quantidade absurda de louças depois do almoço, quando iria à escola, à noite? Até iria, mas a série que estava estudando não tinha nesse período. Desesperou-se, sentiu-se profundamente enganada. Estava farta de trabalhar como empregada sem ganhar nada, nem comida decente podia comer só os restos dos membros daquela família medíocre e covarde. 


Genevieve 63

Quando enfim terminou todo aquele trabalho e foi tomar um desejado café, numa mesinha no canto da cozinha, a senhora lhe mostrou o que poderia comer, ficou muito surpresa! Nada do que estava servido na grande mesa, estava ali disponível para ela, ao contrário, tinha pedaços de pães velhos e secos e nada para passar, café requentado, ela conhecia bem esse gosto porque tomava na casa de sua mãe e conhecia o café novinho, passadinho na hora, como era na casa de vó Ana e na casa dos primos e da madrinha, e ela amava esse café novinho, por outro lado, café requentado era horrível, tinha gosto de água suja e ela conhecia esse gosto, porque tomava no sítio algumas vezes. 

Nada tomou e nada comeu, a senhora percebendo que a menina era “enjoada”, avisou que se quisesse comer era aquilo ali, porque só teria comida no outro dia no café da manhã. Pensou: outra vez vão regular comida prá mim? Que horrível era isso! Na casa de su a mãe até entendia porque tinha pouco e as vezes, não tinha nada mesmo. Mas ali? Naquela mansão? Renegarem comida? Misericórdia! Comeu um pedaço de pão que já parecia ter sido mordido, sentiu nojo, pois pareciam restos. Essa situação a fez lembrar do sítio e dos restos que aquela empregada má deixava à ela e à dona Paulina. Era estranho como algumas coisas se repetiam na vida dela. Antes de dormir sua acolhedora a chamou e mostrou uma lista de tarefas que ela deveria realizar no dia seguinte, bem como, o horário que deveria acordar para dar conta de tudo, com tom sarcástico, falou que duvidava que ela conseguisse dar conta de todo o serviço. Foi esse olhar desconfiado que Genevieve percebeu quando foi medida dos pés à cabeça.


Genevieve 62

Logo a assistente social estacionou o carro na frente de uma bela casa no centro da cidade, com escadarias em mármore branco, enorme, parecia um palácio. Desceram do carro e a campanhia foi tocada, em seguida a porta da frente se abriu e uma senhora muito alegou surgiu, cumprimentando a mulher como se já se conhecessem. A menina foi apresentada à senhora que a mediu de cima em baixo, olhando-a com certo receio, naquele momento, esse olhar não foi compreendido, mas sim, foi um olhar de desconfiança. A assistente social foi embora e se despediu da menina friamente, apenas recomendando que se comportasse e obedecesse ou voltaria à Fucabem. Isso com certeza a pequena não queria, mas sentia que ali não ficaria muito tempo, sentia calafrios no corpo dentro daquela casa imensa, bem como, com o olhar gelado daquela senhora que a chamou para conhecer a casa e por último a levou até o pequeno quarto onde dormiria, era um quartinho pequeno, mas muito bonitinho. 

A senhora questionou sobre roupas, calçados, pertences pessoais e a menina mostrou a roupa que vestia e mais uma muda e um tênis que calçava. Reclamou de como ela ficaria sem roupas quentes no inverno que se aproximava. Era hora do café da tarde e uma mesa enorme estava posta, Genevieve achou sinceramente que seria convidada a sentar-se, mas não! Foi levada à cozinha e apresentada a uma enorme pia cheia de louças ainda do almoço, onde lhe foi ordenado que lavasse e organizasse tudo, depois tomaria café. Aquela sensação de aperto e sufoco no peito começava a fazer sentido. Lavou toda aquela louça, muitas panelas que precisavam ser ariadas com palha de aço, limpou fogão repleto de gordura, esfregou o chão que era claro e estava bem encardido de sujeira, parecia não ser limpo há tempos. 


Deixe sua opinião nos comentários. Ela é muito importante para mim